por Joaquim Maia Neto
Quando jogamos alguma coisa no lixo, temos a sensação de que aquilo deixou de existir, mas não é isso o que acontece. As coisas não desaparecem como mágica, apenas são afastadas da nossa presença, o que não significa que não continuarão a produzir efeito em nossas vidas.
Centro de Reciclagem do Varjão - DF |
Uma experiência interessante, que todos deveriam ter e que eu tive na última semana, foi uma visita a uma associação de catadores de resíduos. Foi tão interessante quanto outra que eu fiz a um lixão. Lugares como esses nos mostram quão grande é nossa capacidade de emporcalhar o mundo, mas também nos ensinam como reduzir nosso impacto no planeta.
O que chamamos de “lixo” não deveria existir. Nós criamos o lixo quando consumimos mais do que deveríamos ou quando damos um destino inadequado ao que não nos é mais útil. Desde o ano passado está vigente no Brasil a Lei 12305, uma lei moderna, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ela estabelece a seguinte ordem de prioridade que deve ser seguida na gestão dos resíduos: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Essa hierarquia de prioridades é muito inteligente e nos ajuda a entender melhor os problemas que nosso consumo traz ao planeta.
As empresas que se utilizam do “marketing verde” têm nos levado a crer que a reciclagem é a solução de todos os problemas causados pela geração de resíduos, mas não é bem assim. Quase tudo, em tese, poderia ser reciclado, mas muitas coisas não o são porque não há viabilidade econômica. Alguns processos de reciclagem consomem mais energia ou são mais caros do que a produção com materiais virgens. Mesmo para produtos cuja reciclagem é viável economicamente, não há garantia de que realmente serão reciclados, porque em muitas cidades não há indústrias de reciclagem e a logística para o transporte dos resíduos até outra localidade pode ser muito onerosa a ponto de inviabilizar o processo. Brasília é a quarta maior cidade do Brasil, porém não há indústrias de reciclagem no Distrito Federal. Quase todo o vidro descartado na cidade vai parar no lixão, porque as empresas que compram e vendem resíduos para serem reciclados em outros estados não consideram rentável o comércio do vidro devido aos custos de transporte. Os habitantes de Brasília que descartam suas embalagens de vidros nos coletores de algumas redes de supermercados estão sendo enganados, pois acreditam que esses resíduos serão reciclados, mas seu destino é o lixão. Portanto, não devemos nos enganar com um mero símbolo de “reciclável” estampado nas embalagens dos produtos que consumimos. O Brasil recicla pouco mais de 50% das embalagens PET e menos da metade do vidro, latas de aço e papel consumidos. Apenas um quarto das embalagens longa vida são recicladas. O único produto que tem altos índices de reciclagem são as latas de alumínio, cujo percentual chega a 91,5%.
Mas será que o aumento na taxa de reciclagem está mesmo levando a uma menor utilização dos recursos naturais? Infelizmente não, porque o consumo está aumentando. Muitas latinhas de alumínio ainda são feitas com material virgem, porque as empresas estão interessadas em vender cada vez mais. É a lógica do capitalismo. A reciclagem só é feita quando representa ganho financeiro. Atravessadores e indústria são os que mais ganham e costumam jogar para baixo o preço pago aos catadores, aproveitando-se dos oligopólios regionais em que operam.
Resíduos eletrônicos abandonados |
O ideal é seguir à risca a ordem de prioridade da lei. Devemos evitar a geração de resíduos. Para isso temos que rever nosso padrão de consumo. Compramos muitas coisas que não precisamos. Nosso celular novo fica obsoleto em alguns meses, mas será que eu realmente preciso comprar o último modelo? Mais fácil ainda é reduzir a geração de resíduos. Podemos comprar uma embalagem de um litro de suco, e colocar num copo reutilizável para nossos filhos levarem para a escola, ao invés de comprar cinco caixinhas de 200 ml. Muitas coisas podem ser reutilizadas. Por que comprar uma jarra se eu posso usar a garrafa de vinho vazia para armazenar água na geladeira? Antes de descartar qualquer coisa, devemos nos perguntar se esse objeto não pode ser útil para alguém, pois podemos doá-lo a quem precisa. Somente após não gerar, reduzir e reutilizar é que devemos pensar em reciclar.
Mesmo adotando uma conduta adequada, ainda assim vamos gerar muitos resíduos. Aqueles resíduos que não podemos deixar de gerar ou que não conseguimos reduzir e reutilizar devem ser encaminhados para a reciclagem. Plásticos, metais e vidros são produtos que demoram muito tempo para se decompor. Alguns deles chegam a levar centenas de anos. Além de resolver o problema da demora na decomposição, a reciclagem pode reduzir a pressão sobre os recursos naturais, evitando o consumo de matérias primas virgens. Como a grande maioria dos municípios não dispõe de sistemas eficazes de coleta seletiva, o melhor que podemos fazer é separar nossos resíduos “secos” dos orgânicos, encaminhando-os para uma cooperativa ou associação de catadores. Caso isso seja feito de maneira organizada nos bairros, condomínios e locais de trabalho, de modo a ampliar a escala, pode-se conseguir que os catadores recolham no local de armazenamento. Essa atitude, além de contribuir com o meio ambiente, ajuda a gerar renda e a dar dignidade a milhares de famílias que ganham seu sustento a partir do que é desprezado por pessoas mais abastadas. Mesmo que você não destine seus resíduos secos a uma cooperativa, e que o sistema de coleta de sua localidade misture-os com orgânicos no mesmo caminhão, separe-os em sacos distintos, pois isso facilita muito o trabalho dos catadores e aumenta o percentual de aproveitamento dos recicláveis.
Os resíduos orgânicos tem um tempo de decomposição relativamente rápido, mas nem por isso deixam de ser um problema, porque os produzimos em grande quantidade. Nos lixões eles são responsáveis por boa parte da contaminação do solo e dos lençóis freáticos, pois se não tiverem uma disposição adequada, podem gerar muitas substâncias tóxicas. Recentemente adquiri uma composteira doméstica que utiliza minhocas para fazer o trabalho de compostagem, sem gerar qualquer cheiro desagradável. O equipamento foi desenvolvido por uma empresa de Brasília chamada “Minhocasa” e impressiona por seus resultados. É possível, com o uso dessa vermicomposteira, transformar cerca de 95% dos resíduos orgânicos em húmus de minhoca e fertilizante líquido, que podem ser utilizados na adubação de plantas. Cada brasileiro produz em média 1,152 Kg de resíduos por dia, sendo que 55% desses são de origem orgânica. O custo médio da coleta de resíduos domiciliares urbanos no Brasil é de R$ 0,10 por Kg, o que implica uma despesa ao país de quase de 9 milhões de reais por dia em coleta de resíduos orgânicos. Se o governo resolvesse subsidiar para a população vermicomposteiras que processam os resíduos orgânicos de uma família de quatro pessoas, em cerca de dois anos o equipamento se pagaria com a economia de despesas da coleta do lixo orgânico, com a vantagem de não poluir o ambiente e de estender muito a vida útil dos aterros sanitários. O único “inconveniente” seria a redução em mais da metade do lucro das poucas empresas que atuam no setor de coleta de resíduos e que embolsam milhares de reais dos cofres públicos.
Lixão de Brasília - DF (foto Câmara dos Deputados) |
A Lei 12305 determina que os municípios tenham aterros sanitários, ao invés dos lixões, até o ano de 2014. É muito difícil que essa meta possa ser cumprida, principalmente para os pequenos municípios. Uma das soluções é a constituição de consórcios intermunicipais para que a disposição final adequada dos rejeitos possa ser feita conjuntamente, otimizando os resultados e reduzindo os custos. Uma das coisas boas que se espera do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC é o financiamento de aterros sanitários nos pequenos municípios.
Outro importante avanço contido na Política Nacional de Resíduos Sólidos é o mecanismo denominado “Logística Reversa”, que obriga a todos os envolvidos na produção e distribuição de produtos como agrotóxicos, eletroeletrônicos, lâmpadas, lubrificantes, pneus, pilhas e baterias, a estabelecer mecanismos de coleta e destinação adequada dos produtos após o seu uso. Nada mais justo, pois quem ganha com a produção deve se responsabilizar pelos danos gerados ao meio ambiente pela sua atividade.
Da próxima vez em que você for descartar alguma coisa, pense nas consequências do seu ato e procure dar ao objeto a melhor destinação possível. Clique aqui e veja algumas dicas.
http://operarioverde.blogspot.com.br/
ResponderExcluir