Apesar do “Dia dos Pais” ser uma data com forte apelo consumista e, portanto, em sua concepção tradicional, contrária à sustentabilidade, a data pode nos levar a uma reflexão de cunho ambiental.
Aptenodytes forsteri (pinguim- imperador) - um dos melhores pais do reino animal |
Ser pai exige uma postura de responsabilidade, não apenas para com os filhos, mas com as futuras gerações de um modo geral. Os filhos, durante a infância, são grandes imitadores de seus pais. O comportamento de imitação muitas vezes é oriundo da admiração que as crianças têm pelos pais e da noção de que o pai é uma pessoa com poderes extraordinários, um herói, alguém que sabe tudo. Na adolescência, começam a delimitar sua própria identidade e passam a ter comportamentos distintos daqueles da família, com a finalidade de autoafirmação. Na realidade continuam imitando, porém não mais os comportamentos do núcleo familiar, que não escolheram, mas do grupo social, da “tribo” que optaram por seguir. A noção de pertencimento a determinado grupo implica a adoção de padrões de comportamento semelhantes aos dos demais membros desse grupo.
Embora haja mudanças no comportamento ao longo do desenvolvimento dos filhos, padrões aprendidos na infância, durante a convivência familiar, tendem a se perpetuar na vida de quem os aprendeu. Isso é muito característico nos comportamentos relacionados ao meio ambiente e à sustentabilidade. Em geral, crianças que crescem em um meio no qual não há preocupação com o desperdício de recursos naturais, com geração de resíduos e com o respeito à natureza, tendem a desenvolver comportamentos inadequados diante dessas questões. É verdade que nos dias atuais as crianças recebem muita informação na escola, nos meios de comunicação de massa, na internet, e acabam construindo seu próprio conhecimento que na maioria das vezes é ambientalmente mais adequado que o de seus pais. É a evolução da sociedade. Não raro, são nossos filhos que nos cobram por uma mudança de comportamento, e nos ensinam a cuidar melhor do planeta. Porém, o padrão de comportamento que desenvolverão, será o resultado das influências familiares somadas às dos outros grupos sociais dos quais participam. Assim, em relação à sustentabilidade, o exemplo familiar sempre terá um papel fundamental no comportamento futuro das crianças. Os hábitos adquiridos a partir da cobrança dos filhos servem de exemplo para retroalimentar atitudes positivas das crianças.
Tive pais que, cada um à sua maneira, muito me influenciaram nos hábitos relacionados às questões ambientais, que por sua vez foram determinantes na minha formação, escolha da carreira, engajamento social e militância. Do meu pai herdei a paixão pela natureza e o amor aos animais. Num tempo em que não havia “Lei de Crimes Ambientais”, meu velho condenava veementemente a matança de um animal sem finalidade alimentícia. Não permitia aos seus filhos portar estilingues, chamados também de atiradeiras, muito comuns à época, e nos ensinava a questionar os amigos que matavam passarinhos. Gostava de mato e me ensinou a gostar. Minha mãe, percebendo minha aptidão ambientalista, estimulava o desenvolvimento intelectual, presenteando-me com livros sobre animais, plantas e rochas, ainda que isso custasse a ela grande esforço financeiro.
Naquela época, desenvolver atitudes voltadas à conservação ambiental, era considerado mera opção, capricho ou aptidão profissional. As grandes preocupações sobre mudanças climáticas, extinção de espécies e esgotamento dos recursos naturais ainda não haviam se popularizado, apesar de já estarem na agenda mundial desde a conferência de Estocolmo, em 1972. Hoje a realidade é outra. Servir de exemplo aos nossos filhos e municiá-los com os instrumentos que os possibilitarão construir conhecimentos e desenvolver competências sustentáveis, tornaram-se obrigações de qualquer pai que se preocupe com o futuro de sua prole.
O maior desafio para a formação de filhos “sustentáveis” é o apelo ao consumo que domina nossa sociedade capitalista. Desde muito cedo os pequenos são bombardeados com publicidade incentivadora do consumo. A convivência social também os motiva a ter coisas que na realidade não precisam. Nós pais, preocupados que somos com o bem estar das nossas crianças, muitas vezes compramos o que eles nos pedem apenas para ver um lindo sorriso estampado em seus rostos angelicais, mesmo sabendo que aquele presente gerou uma alegria momentânea e que após alguns dias o mimo ficará esquecido em um canto qualquer da casa, pois o mercado já tratou de produzir uma nova “bola-da-vez” para despertar a ambição infantil.
Mas não é apenas a publicidade que faz das crianças consumidores compulsivos. Novamente nosso exemplo tem grande influência. A cada vez que compramos o que não precisamos ou trocamos o carro ou celular apenas para ostentar o último lançamento, estamos ensinando um padrão comportamental que será adotado em suas vidas. Ao invés de fazermos passeios em parques, unidades de conservação ou outros ambientes naturais, preferimos o comodismo do shopping center.
O ritmo frenético da vida moderna tem afastado os pais do que é mais importante na educação dos seus filhos: a convivência diária e a formação de valores. As refeições em família são raríssimas. Muitas vezes acontecem num domingo, em algum fast food desses que empurram um brinquedo descartável como brinde pela compra de um sanduiche nada saudável. Poucos pais ainda leem um bom livro para os filhos antes de dormirem. Uma conversa à beira de um rio, uma partida de futebol, uma peça de teatro, um passeio de bicicleta ou uma simples brincadeira em casa, são presentes muito mais importantes do que as bugigangas eletrônicas ou os tênis da moda que damos a eles. Levar as crianças às ações sociais ou filantrópicas e permitir que convivam com as diferenças, que conheçam realidades sociais distintas, também ajuda a construir um legado positivo.
Mesmo querendo ajudar nossos filhos, estamos sendo egoístas para com eles, ainda que inconscientemente. Estamos deixando um meio ambiente pior do que aquele que encontramos na nossa chegada. Esse é o grande débito da nossa geração, que será pago pela próxima, a um alto custo. Nossa responsabilidade é muito maior do que a de gerações anteriores, porque nós não podemos alegar desconhecimento das consequências das nossas ações, ao contrário dos nossos antepassados.
Neste dia dos pais e daqui para frente, mais do que ganhar, precisamos dar aos nossos filhos o presente que realmente necessitam. Os valores de sustentabilidade, respeito à natureza, solidariedade e compromisso com as futuras gerações é que farão a diferença e proporcionarão a eles uma vida melhor. Se falharmos nisso, seremos lembrados como aqueles que pilharam o futuro de quem colocamos neste mundo.
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