Por Joaquim Maia Neto
Neste ano, resolvi mudar a tradicional “mensagem de boas festas”.
Sempre desejamos um feliz Natal e um próspero ano novo, de maneira superficial. Parece uma obrigação lembrar das pessoas no Natal, cumprimentá-las e dar presentes às que são mais próximas.
Por que as pessoas dão presentes no Natal?
Mais do que manifestar o carinho pelo outro, o ato se transformou numa exigência introduzida nas nossas mentes por um poderoso sistema capitalista que valoriza as pessoas de acordo com o que elas podem consumir. E é incrível como não percebemos isso! Podemos lembrar das pessoas queridas em qualquer dia do ano. Mas a máquina da economia tem que girar, e então instituem-se datas para que as pessoas comprem mais. O Natal tornou-se mais uma delas.
Sempre desejamos um feliz Natal e um próspero ano novo, de maneira superficial. Parece uma obrigação lembrar das pessoas no Natal, cumprimentá-las e dar presentes às que são mais próximas.
Por que as pessoas dão presentes no Natal?
Mais do que manifestar o carinho pelo outro, o ato se transformou numa exigência introduzida nas nossas mentes por um poderoso sistema capitalista que valoriza as pessoas de acordo com o que elas podem consumir. E é incrível como não percebemos isso! Podemos lembrar das pessoas queridas em qualquer dia do ano. Mas a máquina da economia tem que girar, e então instituem-se datas para que as pessoas comprem mais. O Natal tornou-se mais uma delas.
Nas festas de fim de ano, até as pessoas que buscam ter uma vida ambientalmente menos impactante, aquelas que tentam reduzir o tamanho de sua pegada no planeta, acabam caindo na armadilha do consumo. Parece que quando o ano acaba, temos que dar um impulso no modelo insustentável no qual se transformou o padrão de produção e consumo da moderna sociedade global, para que a roleta que leva ao esgotamento dos recursos naturais não pare de girar.
Sempre achamos que precisamos mais do que temos. Sempre estamos insatisfeitos. Achamos que aquilo que vemos na vitrine dos shoppings pode nos fazer mais feliz e, ao conquistarmos essa efeméride, percebemos que temos uma próxima a conquistar. Frei Beto um dia disse que os shoppings são os templos modernos. Os produtos que compramos neles são nossos deuses, psicólogos, amigos. Só que essas coisas às quais damos tanto valor por tão pouco tempo, nos empobrecem, contaminam o planeta, esgotam os recursos naturais, viram lixo e nos tornam algozes daqueles que colocamos no mundo para perpetuar nossa espécie.
Hoje em dia, muitos dão mais valor a um bem material do que a uma vida humana. Outro dia ouvi um colega comemorar o fato de que o corpo de um suicida, que se jogou de um prédio, não caiu em cima do seu carro. Se valorizamos tão pouco a vida humana, o que dizer das inúmeras outras formas de vida que desrespeitamos e subjugamos apenas para nos trazer um conforto perdulário e socialmente injusto, porque não pode ser compartilhado por todos os nossos irmãos devido a uma simples questão de limitação do nosso planeta.
Há muito tempo que me incomodo com isso. Para não ser antipático, eu continuava a desejar boas festas, lançando mão de argumentos religiosos e sociais, a fim de sensibilizar as pessoas. Mas isso também tem me parecido hipócrita. Sendo o Natal uma festa Cristã, o Cristo fazia parte dessas minhas mensagens, para que o seu exemplo pudesse fazer as pessoas refletirem. Mas infelizmente o cristianismo distorcido tem agravado a situação. Inúmeras novas religiões “cristãs” prometem e pregam o sucesso financeiro e o apego material. Datas religiosas têm sido usadas para induzir o consumo. Além do Natal, a Páscoa tornou-se data de comercial, e até a Paixão de Cristo estimula o consumo do bacalhau, espécie sobreexplotada que pode desaparecer em alguns anos. Símbolos que são incompatíveis com a doutrinação consumista são esquecidos. Já perceberam que todos têm uma árvore de natal (geralmente exótica, artificial ou morta), mas cada vez vemos menos presépios? O Cristo nascido em uma manjedoura pobre não combina com o Natal opulento que costumamos celebrar. Rezamos pelos famintos do mundo e enchemos a pança de carne e bebidas. O cristianismo está sendo usado pela religião do dinheiro para fortalecer essa economia excludente, insustentável e destruidora da vida. E por que as igrejas ainda não se rebelaram?
Além disso, ultimamente tenho percebido que muitas religiões não cristãs têm uma doutrina e valores muito mais compatíveis com o respeito à natureza e com a noção de que o ser humano está intimamente ligado à malha que une todas as formas de vida. Isso é fundamental em uma época em que presenciamos o inútil esforço que o homem tem feito para se alijar da teia da vida.
Diante de tudo isso isso, não tenho mais vontade de ficar mandando mensagens de boas festas. A tendência é que, perpetuando o atual modelo reforçado anualmente pelas festas de fim de ano, a cada ano tenhamos menos a comemorar. A publicidade das “felicidades do consumo” ainda nos impedirá de ver, durante algum tempo, as catástrofes causadas pelas mudanças climáticas, a extinção das espécies, a destruição das florestas, a contaminação dos nossos alimentos, a fome dos que vivem em áreas degradadas. O conforto que o consumo nos proporciona ainda aplacará por algum tempo nossos raros momentos de indignação. A inexorável realidade é que um dia as consequências do nosso egoísmo chegarão às nossas portas, ou o que é muito pior, às portas daqueles que ainda não estão aqui.
Ao invés de desejar feliz Natal e feliz ano novo, desejo que todos nós mudemos a partir de hoje e durante todos os nossos próximos dias, independentemente da data, do ano, da estação. Que a compaixão que nos toca diante do sofrimento óbvio, nos toque também diante do sofrimento atual do planeta e do sofrimento futuro dos nossos semelhantes, estes não tão óbvios, já que estão escondidos no sistema que nos faz comprar e descartar sem refletir.
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*Texto adaptado de carta enviada aos meus amigos no Natal de 2010. Acredito que continua atual. Desculpem-me os que já leram.
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