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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Desafios do Brasil quanto às mudanças do clima

Por Joaquim Maia Neto
Um dos temas centrais do debate ambiental atual é o problema das mudanças climáticas. Enquanto no final do milênio passado as discussões giravam em torno de temas como o desmatamento das florestas tropicais, a redução da biodiversidade e a escassez de recursos hídricos, por exemplo, a partir do século XXI o aquecimento global assumiu a vanguarda das preocupações dos ambientalistas, até porque suas consequências estão intimamente vinculadas aos demais problemas ambientais.
Crédito: Agência Imagine
http://www.imagine.nl/
É inegável que a questão climática predomina nas discussões empreendidas nos organismos multilaterais internacionais, não apenas nos fóruns estritamente ambientais, mas também nos econômicos e sociais, dado o impacto negativo que os distúrbios climáticos causarão na economia de um modo geral. Estão previstos sérios problemas na produção de alimentos, no regime hidrológico, com consequentes conflitos motivados pela falta de água em algumas regiões do planeta, e na defesa contra desastres naturais, que estão aumentando em frequência e intensidade. Nas próximas décadas provavelmente conviveremos com a problemática dos refugiados ambientais, devido à transformação de grandes áreas em ambientes cada vez mais inóspitos.
Toda a discussão mundial em torno do meio ambiente tem sido pautada basicamente pela necessidade de ações concretas voltadas à mitigação das mudanças climáticas, bem como à adaptação da sociedade e dos ecossistemas à mudança do clima. Na Rio+20, que acontecerá neste ano, o assunto permeará todos os temas a serem abordados. Dois pontos importantes que serão tratados na conferência são a transição para uma economia verde e o desenvolvimento de instrumentos de governança ambiental global, sendo que ambos têm como foco, entre outras questões, o enfrentamento dos problemas climáticos. O segundo ponto está levando à salutar discussão sobre a necessidade de criação de uma organização mundial para o meio ambiente, nos moldes da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A proposta já conta com o apoio de mais de cem nações e pode ser a chave para a solução dos recentes impasses nas negociações ambientais entre os estados nacionais, causados pelas dificuldades surgidas com a crise econômica global que esfriou a busca por ações concretas, na medida em que está levando os governos a rechaçarem qualquer proposta que implique frear algum crescimento econômico. Isso tem sido visto por diversos analistas como um motivo que levará ao fracasso da Rio+20.
Apesar de algumas manifestações destoantes e de alguns escândalos envolvendo a manipulação de dados nos estudos sobre as mudanças climáticas, pode-se considerar como praticamente consensual o diagnóstico de aceleração do aquecimento do planeta causado por ações antrópicas e suas consequências adversas.
Avanço do mar sobre a orla em Baía
da Traição - PB
Foto: Rostand Medeiros
http://www.tokdehistoria.wordpress.com/
Mesmo defendendo uma responsabilização maior das nações desenvolvidas no enfrentamento do problema, o Brasil deu um importante passo com a elaboração do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, a criação do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima e a instituição da Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC (Lei 12187, de 29 de dezembro de 2009). Por meio desta Lei, o país assumiu o compromisso voluntário de redução entre 36,1 e 38,9% de suas emissões de gases do efeito estufa (GEE) projetadas até 2020, o que é uma meta bastante corajosa. Com essa atitude o Brasil dá um grande exemplo às demais nações, em especial àquelas que mais emitem GEE e se candidata à liderança mundial na mediação das negociações que visam avanços a respeito do tema. É uma boa credencial para quem será anfitrião da maior conferência ambiental do planeta.
Por outro lado, nosso país também tem seus pecados. A política desenvolvimentista implementada pela presidente Dilma criou um cenário favorável a ataques bem sucedidos contra a legislação ambiental brasileira. A pressão do agronegócio, que tem uma importante bancada no Congresso Nacional, tem alcançado êxito nos esforços para promover o retrocesso, principalmente na política florestal. A aprovação da Lei Complementar 140, no final do ano passado, foi o maior ataque já consolidado. Caso as mudanças no código florestal aprovadas pelo Congresso sejam sancionadas pela presidente da república, dificilmente o Brasil cumprirá suas metas voluntárias definidas na PNMC, devido ao aumento no desmatamento com o consequente incremento das emissões que a reforma legislativa causará.
Fonte: http://www.ethos.org.br/

Se o Plano Nacional sobre Mudança do Clima for efetivamente implementado, o cenário torna-se mais animador. O plano foi concebido num contexto de oportunidades de mitigação em diversos setores, como energia, transportes, edificações, indústria, agrícola, silvicultura/florestas e resíduos. Como exemplo de ações de mitigação previstas no plano, temos a recuperação do metano de aterros, a incineração com recuperação energética e a reciclagem, na área de resíduos, bem como a utilização de veículos eficientes, a modernização da frota, a expansão dos modais ferroviário e aquaviário e os incentivos ao transporte coletivo, na área de transportes.
Temos três pilares importantes para enfrentamento da questão das mudanças do clima, a Política, o Plano e o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, este como importante instrumento de financiamento das ações necessárias para execução do plano. Resta saber como alcançar resultados neste cenário de políticas contraditórias adotadas pelo governo, que acena à comunidade internacional com medidas de responsabilidade climática, mas internamente faz o jogo dos interesses econômicos que não têm qualquer compromisso além do lucro fácil e imediato.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Globalização e meio ambiente

Por Joaquim Maia Neto
Apesar de o termo “globalização” estar, de uma maneira geral, associado às mudanças ocorridas no cenário mundial entre o final do século XX e o início do século XXI, é possível afirmar que se refere a um fenômeno cíclico, com picos “globalizadores” ao longo da história. Talvez a primeira grande onda da globalização tenha ocorrido durante o período das grandes navegações, que possibilitaram ligações comerciais entre continentes distantes.
A globalização como a conhecemos hoje tem suas raízes na época imediatamente posterior ao fim da segunda guerra mundial. Os maciços investimentos empreendidos por algumas nações, direcionados à manutenção da máquina de guerra, fincaram as bases do aparato tecnológico que possibilitou a expansão dos mercados, criando a chamada economia-mundo.
Os EUA emergiram da segunda grande guerra como potência econômica. Beneficiados pela concentração da tecnologia e pela capacidade econômica de financiar a reconstrução dos países arrasados pelo conflito, passaram a exercer forte domínio sobre boa parte do mundo, não alcançando a hegemonia global graças à bipolarização decorrente da divisão do poder mundial com a União Soviética. Surgida após a primeira guerra mundial em decorrência da revolução que depôs a monarquia czarista, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS lutou ao lado dos aliados na segunda guerra, pois havia sido invadida pelas tropas nazistas. Com a derrota do Eixo, coalizão composta, entre outros, pela Alemanha, Itália e Japão, a URSS, que à época já era uma potência industrial, garantiu influência sobre todo o leste europeu. Essa bipolarização deu origem à Guerra Fria, que duraria até 1991.
Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, as condições para a rápida expansão capitalista no mundo estavam criadas. A partir de então o poder das corporações passou a ficar cada vez mais evidente em detrimento do poder dos estados nacionais. A adoção por muitos países de modelos econômicos liberais, sob a influência da doutrina implantada por Margaret Thatcher no Reino Unido, aliada ao avanço tecnológico nas comunicações e nos transportes, permitiu o surgimento da “aldeia global”. Estabeleceu-se a divisão internacional do trabalho, por meio da qual as corporações pulverizam etapas da produção de bens em diversos países, garantindo o maior lucro possível. Enquanto no passado a produção industrial se dava na metrópole, que obtinha a matéria prima a partir das colônias, no novo modelo a produção passou a ser feita nos países menos desenvolvidos para garantir menor custo de produção, devido principalmente à mão-de-obra mais barata. A prática muitas vezes leva à exploração desumana dos trabalhadores de países periféricos e garante a disseminação global dos produtos a preços competitivos.
Fonte: http://www.gaia.org.pt/

As consequências ambientais da globalização e da implantação da nova ordem mundial do pós-guerra são catastróficas. A crise ambiental que ameaça o futuro do planeta tem sua origem justamente na expansão capitalista promovida pela globalização. Para a economia globalizada continuar crescendo são necessários cada vez mais consumidores, ainda que não consumam sequer o mínimo necessário a uma vida digna. O aumento do consumo por aqueles que já dispõem do necessário para viver é uma necessidade constante, que é estimulada por campanhas publicitárias, mensagens subliminares e por um sistema que valoriza as pessoas pelo seu poder de compra e não pela essência de cada ser.
Planejamento familiar, soluções coletivas para aquisição de bens e serviços (incluindo o transporte coletivo), formas alternativas de produção, estímulo à produção familiar de alimentos, entre outros, contrariam a lógica do mercado global e por isso não são fomentados pelos governos e instituições públicas capturados pelas corporações. Para que essa máquina continue girando é preciso que se disseminem padrões de comportamento altamente consumistas.
Nessa esteira seguem estratégias altamente sofisticadas, como a chamada obsolescência programada, observada com facilidade, por exemplo, no mercado de telefones celulares. Apesar de haver tecnologia disponível para produtos mais sofisticados, os modelos são lançados “a conta-gotas” para estimular o maior consumo. A indústria da moda é outra vertente da estratégia consumista, ditando padrões voláteis que impõem aos seus seguidores a necessidade de comprar novas roupas a cada estação.
As necessárias ações mitigadoras de problemas sociais, como o combate à fome, por exemplo, ou mesmo algumas louváveis ações de inclusão social, muitas vezes ajudam a movimentar o sistema, na medida em que trazem mais consumidores ao mercado. No entanto, medidas que possam distribuir renda mais efetivamente, como tributação progressiva ou uma regulação mais rígida do mercado não são adotadas. Discussões sobre controle populacional são consideradas tabus, sob o pretexto de que o desenvolvimento proporcionado pelo avanço da economia de mercado promove naturalmente o planejamento das famílias.
Fonte: leonamsouza.blogspot.com

No mundo dominado pelos interesses corporativos a demanda por matéria prima e energia é crescente. Isso resulta em exploração insustentável dos recursos naturais, geração de resíduos em progressão geométrica, poluição e contaminação ambientais crescentes, avanço progressivo sobre áreas naturais, escassez de água, destruição de habitats com consequente redução na biodiversidade, incremento na emissão de gases de efeito estufa, etc..
Paradoxalmente, a ganância desmesurada da globalização capitalista poderá ser seu algoz. As recentes crises que abalaram a economia estadunidense com reflexos que estão sendo sentidos até agora no restante do mundo, especialmente na Europa, demonstram isso. A facilidade que a tecnologia propiciou na área da comunicação, causa e ao mesmo tempo consequência da globalização, promove a gestação de movimentos contrários ao capitalismo selvagem, turbinados pelas redes sociais.
A análise do fenômeno da globalização com alguma profundidade joga por terra as teses conspiratórias contra as ONGs ambientalistas, que atribuem a elas interesses contrários ao desenvolvimento das nações emergentes. A degradação ambiental ocorrida nesses países tem concentrado riqueza nas mãos das corporações transnacionais que compram nossas commodities para produzir bens industrializados de valor muito maior. A estadunidense Cargill é um exemplo didático.
Assim como em qualquer atividade humana, a luta pela conservação ambiental não pode prescindir dos conhecimentos históricos, econômicos e geopolíticos, sob pena de que se cometam erros cruciais de avaliação que acabam levando ao fracasso.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Coisas que me chateiam

Por Joaquim Maia Neto
Há alguns acontecimentos do cotidiano que são relativamente comuns, mas que me chateiam bastante. Uns chegam a me deixar irritado e outros me fazem refletir sobre a dificuldade que as pessoas têm em conviver umas com as outras, em respeitar o direito alheio, em se colocar no lugar do outro, em conservar a natureza.
É chato falar de coisas chatas, porém mais chato ainda é passar por elas sem dizer nada. A tolerância é uma virtude que precisa ser cultivada por todos nós, mas isso não significa que tenhamos que nos omitir diante da falta de respeito. Refiro-me não apenas ao respeito às pessoas, mas também ao respeito aos demais seres vivos e ao planeta.
A lista de chateações é extensa e por isso irei poupar os leitores de boa parte delas, pelo menos neste artigo. Talvez, numa próxima oportunidade, apresentarei outros exemplos.
Fico muito satisfeito em poder ir ao trabalho todos os dias de ônibus. Considero um grande privilégio poder deslocar-me pela cidade utilizando transporte coletivo com rapidez e razoável conforto. Sei que essa não é a realidade da maioria dos brasileiros. Conforta-me saber que posso servir de exemplo para que outras pessoas percebam como não é difícil mudar seus hábitos para torná-los menos impactantes ao meio ambiente. Recebo como bônus o benefício de não ter a preocupação de procurar lugar para estacionar o carro, o que é uma grande vantagem na atual conjuntura de disputa ferrenha por uma vaga. Mas como nada é perfeito, sou obrigado a observar atitudes egoístas no coletivo. 
Fonte: http://www.zonadamatamg.com.br/
Não consigo perder o hábito de observar o comportamento das pessoas na cena urbana. Costumo divertir-me com isso, vendo a diversidade cultural representada nas ruas da cidade. Mas também vejo muita falta de educação. E aí vai a primeira das chateações: não há nada mais sacana do que o sujeito, no ônibus urbano, se acomodar no assento do corredor, deixando vago o da janela. Apesar de arranjarem dezenas de justificativas para esse comportamento, os que o praticam o fazem por um único motivo, que é não querer compartilhar o espaço com algum desconhecido. Ninguém tem coragem de negar a passagem a alguém que peça licença para sentar na janela, mas o constrangimento causado não só é evidente, como é o objetivo de quem causa a obstrução. Tem gente que chega ao cúmulo de fingir estar dormindo ou de simular extrema concentração na leitura de um livro para ter êxito no seu egoísmo. Essa prática também é utilizada para não ceder o espaço a gestantes, idosos e outras pessoas que têm preferência na acomodação. Percebe-se que o indivíduo utiliza-se do transporte coletivo a contragosto. Prefere não estar ali, dividindo o espaço com pessoas diferentes. Há os que preferem viajar em pé a ter que solicitar passagem para sentar ao lado de quem opta pela atitude segregadora, o que acaba atendendo à expectativa dos mal-educados.
Existem chateações que são difíceis de explicar a quem as causa. Você já deve ter ouvido falar de uma marca de cafeteira chamada “Dolce Gusto”. A marca é associada à famosa grife de café “Nescafé”, da companhia suíça Nestlé, que recentemente esteve envolvida em escândalos relacionados à promoção de desmatamento em áreas sensíveis na Indonésia e ao descumprimento da legislação de proteção ao consumidor no Brasil. A tal cafeteira, com a qual tenho que me deparar todos os dias no trabalho, funciona com cápsulas plásticas cujo conteúdo é suficiente para o preparo de um único cafezinho. Cada vez que alguém resolve tomar um café, uma cápsula vira lixo. E o pior é que é inviável reciclar essas cápsulas. A máquina faz um micro furo em um selo metálico que veda a cápsula e o pó de café usado permanece contido na embalagem após o preparo da bebida. A logística para retirar o selo e o pó da embalagem torna o processo de reciclagem extremamente oneroso, ao ponto de inviabilizá-lo. Você acha que quem toma o café se preocupa em retirar o selo e lavar a embalagem? Isso “dá trabalho”! Falar sobre o assunto rende apelido de xiita. Já virei motivo de piada por causa disso. Não consigo desassociar o comportamento dos consumidores do “Dolce Gusto” daquele dos fumantes que jogam as bitucas acesas no chão. Ter que apagá-las e jogá-las no lixo é demais! 

CLIQUE NA FIGURA PARA VER EM TAMANHO MAIOR
Printscreen da página de perguntas frequentes do SAC da Nestlé. Arte de http://www.aventurasgastronomicas.com.br/
Permitam-me apenas mais uma. Essa me irrita profundamente. As chamadas “podas radicais” nas árvores, que apesar do nome não são feitas nas raízes, são o cúmulo da insensatez. Executadas com a complacência dos administradores das urbes, quando não realizadas a mando dos próprios, constituem uma verdadeira mutilação dos seres que prestam relevantes serviços ambientais, como a mitigação do barulho, o sequestro de carbono, o conforto térmico, o embelezamento da paisagem urbana, entre tantos outros. A retirada total da copa, além de deixar a árvore  com aspecto sofrido, impede por longo tempo que a mesma desempenhe a grande maioria de suas funções ecológicas e torna-a suscetível a diversas infecções causadoras de doenças. É comum, após várias podas desse tipo, cortar a árvore sob o argumento de que está condenada. Só não se diz que o que a condenou foi o tratamento cruel ao qual a planta foi submetida. A motivação para a mutilação arbórea é torpe: exposição de fachadas, folhas que “sujam” o chão e entopem calhas, placas publicitárias que precisam ser vistas para a promoção do consumo, ou qualquer outra firula que a ignorância humana possa fomentar. Associo a imagem a um ser triste, de braços estendidos aos céus clamando por um pouco de iluminação às mentes inebriadas que condenam o futuro para fruir as efemeridades da sociedade de consumo.
Fonte:
 http://www.revolucoes-por-minuto.blogspot.com/

Por enquanto fico apenas nestas para não irritá-lo ainda mais, caro leitor. Escrever sobre o que me chateia é terapia para cultivar a tolerância positiva e aplacar a irritação alimentada a cada passeio crítico pela cidade.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O direito de saber o que se consome


Por Joaquim Maia Neto
Hoje em dia consome-se uma grande quantidade de alimentos industrializados. Ao contrário dos nossos antepassados, boa parte da nossa dieta é muito diferente daquilo que a natureza nos oferece. Nossos ancestrais mais remotos caçavam ou extraiam dos vegetais os nutrientes dos quais precisavam para sobreviver. Outros ascendentes, não tão distantes assim, passaram a produzir seu próprio alimento criando animais domésticos ou cultivando grãos, hortaliças, frutas, entre outros produtos vegetais. Essa realidade era muito comum há poucas gerações atrás e ainda persiste no interior do país, em situação cada vez mais rara. A urbanização faz com que nos distanciemos da produção a ponto de nossas crianças não terem a noção de que o bife que está no prato na hora do almoço é um pedaço de um animal ou que a batata frita cresceu embaixo da terra.
Fonte: http://www.anutricionista.com/
No caso dos alimentos que são consumidos in natura, não é tão difícil fazer associação com as espécies das quais eles se originam. O mesmo não pode ser dito a respeito dos produtos processados pela indústria alimentícia. Mistura-se tanta coisa, incluindo o alimento em si e todos os aditivos, que até os mais empenhados em se informar sobre o que comem têm dificuldade em saber o que estão ingerindo e quais os benefícios e desvantagens daquele produto ao seu organismo.
Lamentavelmente a indústria de alimentos se preocupa muito mais com a aparência e o potencial de comercialização do que com a riqueza nutricional e a segurança à saúde de seus produtos. Isso não é por acaso. Produtos industrializados são desenvolvidos levando-se em conta detalhadas pesquisas de mercado que subsidiam a decisão da indústria sobre o que vai ser lançado e como esse produto será produzido e apresentado. O consumidor é quem pauta a indústria e é ele próprio quem estimula a produção de alimentos aditivados com substâncias pouco saudáveis ao manter o hábito de escolher pela aparência e não pelo valor intrínseco do alimento.
Alguns aditivos, como os conservantes, estão relacionados à praticidade de poder estocar o produto por muito tempo, viabilizando o transporte por grandes distâncias ou a aquisição em grandes quantidades que demorarão a serem consumidas. As grandes indústrias expandem seu mercado por todo o país e extrapolam até mesmo os limites nacionais. A logística para essa distribuição exige a conservação do alimento por mais tempo. O ritmo de vida adotado nas cidades não permite que as pessoas gastem tempo comprando produtos frescos diariamente, ou pelo menos algumas vezes na semana. Recorre-se então aos alimentos industrializados e seus conservantes que impedem, ou pelo menos adiam, a transformação do produto em uma colônia de bactérias ou fungos.
A preocupação com ingestão de calorias, tão em moda na atual época em que a aparência conta mais do que o conteúdo, faz crescer a utilização dos edulcorantes (adoçantes). O mercado de alimentos de baixa caloria atende também à demanda de pessoas diabéticas, que devem restringir a ingestão de açúcares. As pessoas muitas vezes se esquecem que os edulcorantes artificiais podem fazer mais mal do que o açúcar que evitam ingerir. Pesquisas mostram que esses aditivos, assim como alguns conservantes e corantes, estão relacionados ao aumento de incidência de câncer. Existem edulcorantes naturais como, por exemplo, os extraídos de plantas do gênero Stevia, que são altamente eficientes e não prejudicam a saúde. Infelizmente edulcorantes e corantes naturais costumam ser preteridos pela indústria devido ao custo, praticidade ou resultado em termos de sabor ou aparência.
Aliás, para que servem os corantes alimentares? Qual o problema se o suco de morango não fica tão vermelho quanto à fruta in natura? O sabor não muda com a adição do corante. A indústria só o acrescenta porque as pessoas preferem o mais “vermelhinho”, não raciocinando sobre o prejuízo que isso traz à saúde.
Consumidores caem em armadilhas nutricionais pela falta de informação. Para ter uma dieta com menos calorias, é preferível continuar comendo os alimentos tradicionais em menor quantidade, do que recorrer aos “venenos” disseminados pela indústria de alimentos. Ao invés de ficar bebendo refrigerante diet, que está repleto de edulcorantes nocivos, elimine ou reduza drasticamente o consumo desse tipo de bebida, substituindo-o por sucos naturais. Use manteiga em menor quantidade ao invés de consumir margarinas, que são basicamente gorduras trans.
Conservantes, gorduras trans, edulcorantes e corantes artificiais, além de altos teores de sódio e de açúcares são os grandes vilões dos produtos industrializados.
O maior desrespeito para com o consumidor está nas “pegadinhas” das embalagens. A ANVISA ainda é muito falha como entidade reguladora, pois permite que a indústria se utilize de artifícios para ludibriar a população. O caso das gorduras trans é um exemplo. A Agência permite que o fabricante declare que seu produto é livre dessa gordura altamente prejudicial, se o mesmo tiver até 0,2g por porção. Ocorre que quem determina o tamanho da porção é a própria indústria, que muitas vezes o reduz para poder alegar que o produto é saudável, quando na verdade não é. Não existem níveis seguros para ingestão de gorduras trans. Qualquer quantidade é prejudicial. Outra falha na legislação é que não é obrigatório escrever por extenso, na lista de ingredientes, o termo “gordura vegetal hidrogenada”. É comum o fabricante escrever apenas “gordura vegetal” num produto que contem o tipo hidrogenado, que é uma gordura trans produzida artificialmente. A saída para o consumidor é ler a lista de ingredientes em idioma estrangeiro, pois muitos países exigem a discriminação, mas isso só é possível nos produtos que também são distribuídos no mercado externo.
É bom saber que qualquer gordura de origem vegetal que permanece no estado sólido à temperatura ambiente é prejudicial à saúde, pois ou é hidrogenada ou interesterificada. Por isso evite as margarinas.
O consumidor deve ter o direito de saber o que está comprando. As listas de ingredientes e tabelas nutricionais em letras minúsculas são desrespeitosas. Urge uma legislação que obrigue a indústria a colocar alertas em tamanho grande nas embalagens, para que o consumidor não seja enganado. Até para com os alertas obrigatórios os fabricantes dão um jeito de se esquivar. A Pepsico coloca o símbolo de produto transgênico próximo à dobra inferior das embalagens dos seus salgadinhos “Elma Chips”, feitos com milho geneticamente modificado. Na gôndola do supermercado o alerta fica escondido, porque a dobra normalmente o cobre.
Fonte: http://www.netconsumo.com/
Se eu, que sou ovolactovegetariano, sofro ao escolher meus produtos no mercado, imaginem os veganos. Um dia desses comprei um hambúrguer de soja, que tinha leite e ovo na sua composição. Para mim, tudo bem, mas um vegano poderia ser enganado dado o tamanho diminuto das letras dos ingredientes. E no fast food, será que o hambúrguer de soja é realmente cem por cento de origem vegetal? É um saco ter que ficar procurando letrinhas miúdas para saber se o iogurte tem gelatina, que é feita de pele e ossos de bois e porcos (sabia disso?), ou se o suco de caixinha é colorido com carmim de cochonilha, um corante extraído de insetos.
Para quem consome qualquer tipo de alimento, essa discussão pode parecer “frescura”, mas o que está em questão é o direito à informação. Da mesma forma que temos o direito de saber que a cerveja “sem álcool” tem até 0,5% de álcool, ou que o tomate foi produzido com o uso de agrotóxicos, ou ainda que a roupa de uma grande rede comercial utiliza mão-de-obra escrava, também devemos saber se o calçado esportivo é fabricado com couro ou com material sintético e se a comida tem substâncias nocivas à saúde. Cabe ao consumidor boicotar produtos que enganam ou omitem informação e pressionar parlamentares e instituições reguladoras para que legislem e regulamentem pensando mais no interesse público do que no lucro da indústria.