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domingo, 4 de março de 2012

Reflexões de um ambientalista

Por Joaquim Maia Neto
Ser ambientalista no Brasil não é fácil. É necessário um esforço enorme para buscar esperança, motivação e expectativa de avanços, evitando dessa forma o esmorecimento. A fantástica biodiversidade do país é sem dúvida uma grande incentivadora de milhares de pessoas que enveredam de diversas maneiras pelo caminho da proteção da natureza. Para quem já tem uma predisposição pela causa, a contemplação da exuberância da fauna, flora, paisagens naturais e processos ecológicos que brindam nosso país com uma riqueza única, é algo que incentiva fazer alguma coisa, dedicar algum tempo para conservar as diversas formas de vida e o ambiente que as sustenta. Outra motivação comum para a luta ambiental é a indignação despertada em nós quando vemos a degradação acelerada motivada pelo poder do dinheiro.
Foi justamente a riqueza da nossa biodiversidade que me levou, logo cedo, a ser um apaixonado pela natureza. Percebendo minha vocação minha mãe já me presenteava, quando ainda criança, com livros que descreviam espécies animais e vegetais de todo o mundo. Eu achava muito interessante saber que ao meu redor era possível observar uma diversidade maior do que aquela retratada nas obras originalmente publicadas no velho mundo ou na América do Norte. Uma breve incursão numa mata, em companhia do meu pai, me permitia observar mais espécies de aves do que as que eu encontrava nos capítulos sobre os ambientes da Europa, por exemplo.
Sendo um garoto caipira, do interior, era natural frequentar os ambientes aquáticos continentais. As pessoas se divertiam nadando ou pescando nos rios, córregos e represas. Logo a ictiofauna me despertaria grande interesse. Numa época na qual as crianças viviam “soltas”, desconectadas da parafernália eletrônica que ainda não dominava os lares, eu passava várias horas do dia “batendo peneira”, tentando identificar os espécimes de peixes. Muitos deles eram capturados por mim e passavam a viver nos meus aquários. Foi assim que tudo começou. O aquarismo, que me levava a fazer até algumas bobagens, como retirar os bichos do seu hábitat, foi importante para trazer o conhecimento de como a natureza funcionava e de quão bela ela é na sua “simplicidade complexa”. O palco das minhas primeiras aventuras ictiológicas foi o Córrego Canela, que hoje não passa de um canal de drenagem encravado na região central de uma São José do Rio Preto que há muito deixou de ser bucólica.
Quando me dei conta de que minha vida jamais se afastaria das questões ambientais, já estava na universidade estudando biologia. Desde então pude experimentar várias maneiras de viver o ambientalismo. O engajamento nos movimentos sociais, políticos e religiosos sempre foi direcionado, senão totalmente, em boa medida para a discussão e defesa do meio ambiente. Tentei de alguma forma contribuir ensinando, pesquisando, debatendo, educando, votando e acima de tudo procurando dar exemplo. O serviço público me permitiu durante um bom tempo ganhar a vida defendendo o meio ambiente, mas dentro da máquina pública é preciso muitas vezes brigar para conseguir fazer o que deve ser feito e nem sempre se sai vitorioso nessa briga. Escrever foi uma forma que encontrei para ter mais armas na batalha ambientalista.
Apesar de não parecer, o ambientalista é essencialmente um otimista. Só continua lutando porque acredita que ainda é possível salvar um sítio natural, um ecossistema, uma espécie, um bioma, o planeta. Porque crê na mudança da sociedade e do comportamento das pessoas. Muitos enxergam os ambientalistas como os cavaleiros do apocalipse que estão sempre prontos a anunciar a tragédia ambiental, o caos, o fim do mundo. Se não fôssemos otimistas, seria mais cômodo aproveitar o que resta do mundo, obtendo o máximo conforto enquanto isso é possível. Ao contrário, preferimos deixar a zona de conforto e lutar pelo futuro.
Hoje eu iria escrever sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, uma lei publicada no final do Governo Lula e que, a exemplo da Política Nacional sobre Mudança do Clima, abordada no artigo anterior, é uma das coisas positivas que recentemente aconteceram no Brasil e que fazem parte do rol de assuntos motivadores a alimentar os ideais dos que lutam por um ambiente mais equilibrado. Infelizmente, por ironia do destino, enquanto eu rascunhava um esboço de texto sobre resíduos, recebia a notícia de um novo carregamento de lixo importado que chegara ao Porto de Itajaí. Eu já havia escrito sobre esse tipo de problema alertando que essas importações poderiam ser mais comuns do que se pensa, pois uma amostra pequena dos containeres é conferida pelos fiscais. A nova importação de lixo, dessa vez proveniente do Canadá, teve um espaço na mídia muito inferior aos casos anteriores, o que é típico de algo que se torna comum. A triste notícia e mais a expectativa da votação do desmonte do código florestal na próxima terça-feira na Câmara dos Deputados, levaram-me a publicar estas reflexões ao invés da discussão sobre os resíduos.
Não importa quantas batalhas sejam perdidas, haverá sempre alguma vitória, ainda que pequena, que mostra que a luta vale a pena. Uma notícia de redução de desmatamento, a publicação de uma lei que facilite a equação de um problema ambiental, a criação de uma unidade de conservação, um movimento organizado de defesa de um bem ambiental, uma vitória do Ministério Público na defesa dos direitos difusos, uma geração mais consciente, todos são motivos para renovar as esperanças. A necessidade de deixar de destruir, de poluir menos, de respeitar a natureza é cada vez mais evidente. Até quem não quer ver será obrigado a abrir os olhos. Fenômenos como os tufões que varreram cidades americanas do mapa na semana passada são cada vez mais frequentes. Está difícil dissociar essa constatação de sua mais provável causa, que são as mudanças do clima. As ações do homem terão que convergir para a equação dos problemas ambientais, cujo caminho é uma relação mais harmoniosa com a natureza. Portanto, não há como os ideais ambientalistas não prevalecerem.  Nós ambientalistas, sabemos disso, mas lutamos ainda assim para que a solução chegue o quanto antes. Assim, quem sabe, as sequelas serão menores.

2 comentários:

  1. É um equívoco atribuir ao “poder do dinheiro” a degradação acelerada (incluídos, desmatamento e poluição), como se esta fosse consequência de ações isoladas de Inescrupulosos que fazem qualquer coisa para ganhar dinheiro.

    Estes Inescrupulosos existem e no elo final são eles que “executam” a degradação ilegal. Porém, estes Executores apenas atendem uma demanda gerada no elo inicial pela sociedade que compra produtos ilegais.

    Quem é o CAUSADOR de um crime? Os Executores ou os Mandantes?

    Quem é o CAUSADOR da degradação? Aquele que atende a demanda ou aquele que gera a demanda ao buscar e comprar produtos ilegais ou legalmente nocivos ao meio ambiente por serem mais baratos?

    Este consumismo irresponsável ficou evidente na reação contrária dos “consumidores” quando os supermercados de São Paulo/SP tentaram estimular a atitude saudável de reduzir o uso de sacolas plásticas. Os supermercados foram obrigados a recuar e os “consumidores”, em nome do comodismo e baixo custo, continuam alegremente poluindo o meio ambiente com sacolas plásticas.

    No texto acima, o próprio autor diz que fez algumas bobagens, como retirar os bichos do seu hábitat e que as pessoas se divertiam nadando ou PESCANDO nos rios, córregos e represas.

    Na verdade a degradação é consequência das ações de cada um de nós.

    É a falta de informação e/ou a falta de escrúpulos de cada um de nós, numa sociedade que louva um “modo de vida” nocivo ao meio ambiente, concretizado num consumismo irresponsável, que é a verdadeira causa da degradação.

    Seria muito mais efetivo PRIORIZAR O COMBATE ÀS CAUSAS, com a conscientização e mobilização dos “consumidores” para que não causem a demanda pela degradação, DO QUE PRIORIZAR O COMBATE ÀS CONSEQUÊNCIAS.

    Os verdadeiros ambientalistas, mais do que otimistas são idealistas e, idealistas não podem compactuar com injustiças e, além de ineficaz, é injusto atacar apenas os Executores e deixar impunes os Mandantes que são os verdadeiros causadores da degradação.

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  2. Precisamos não só reciclar o lixo, mas reciclar as mentes, mudar paradigmas. A falta de conhecimento das causas e concequências é o calcanhar de Aquiles da sustentabilidade. Educar, educar, educar...essa é a única solução sempre...para tudo!
    Parabéns pelo texto e pelo comentário, concordo c os dois.

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