Por Joaquim Maia Neto
Há poucos dias comemoramos o descobrimento do Brasil. Há 512 anos os portugueses aqui chegaram e iniciaram a exploração dos recursos naturais. Não que os índios que aqui habitavam também não o fizessem, mas a exploração não tinha a escala estabelecida pelos europeus. Podemos dizer que são 512 anos de desmatamento. A primeira vítima foi a Mata Atlântica, primeira formação vegetal no caminho dos colonizadores, já que entraram pelo litoral. Como foi a primeira, sofreu por mais tempo e hoje é o bioma mais ameaçado.
Os cidadãos brasileiros não aceitam isso. No Dia do Trabalho, em várias cidades brasileiras as pessoas se manifestarão contra as alterações aprovadas no Código Florestal. Pedirão à presidente Dilma Rousseff que vete integralmente este absurdo cometido por deputados que há muito não representam o povo. Gritarão para que todos ouçam aquilo que as pesquisas de opinião já dizem há muito tempo. O Brasil não quer esse Código proposto pelos ruralistas que só atende aos interesses do grande capital e prejudicará as presentes e futuras gerações no seu sagrado direito à vida, ao equilíbrio ambiental, a um clima adequado, à conservação das águas e das espécies. O falso desenvolvimento trazido pelo agronegócio devastador tem uma única face: a da degradação, da exploração do trabalhador rural, do trabalho escravo, da dependência de sementes transgênicas e do envenenamento dos alimentos pelos agrotóxicos.
Hoje, nós brasileiros, membros de um Estado independente, estamos fazendo muito pior que os portugueses. Na última quarta-feira nossos parlamentares decidiram acabar com o Código Florestal Brasileiro, a lei que protege as florestas nacionais e que é fruto de uma evolução na legislação ambiental que remonta ao período colonial. Quando o Brasil foi descoberto, já existiam leis de proteção ambiental na Coroa que foram aplicadas à colônia, mas diante da nossa biodiversidade, os portugueses, apesar de exploradores, se preocuparam em racionalizar o uso dos recursos florestais.
Em 1797 a Coroa baixou o primeiro “Código Florestal”, na realidade um regulamento de exploração das florestas brasileiras. O seu descumprimento implicava a aplicação de duras penas aos infratores. Além de pagar multa em dinheiro, eram degredados da comarca por dois anos. Em 1800 uma Carta Régia determinava a conservação de espécies florestais de interesse da Coroa. Para fiscalizar o seu cumprimento e aplicar a lei foram criados o cargo de “Juiz Conservador” e uma “Patrulha Montada”, que foi, de fato, a primeira “Polícia Ambiental” brasileira. Em 1821 veio a primeira legislação sobre “Reserva Legal”. Em todas as terras vendidas e sesmarias doadas, um sexto da área ficava reservada aos “matos e arvoredos”.
Nossos deputados querem nos roubar o direito ao meio ambiente equilibrado. Querem anistiar desmatadores, acabar com a reserva legal em muitas propriedades e liberar novos desmatamentos. Já retiraram, junto com o governo, muito poder do IBAMA, nossa “polícia ambiental” federal. Ou seja, estão desmontando o que começou a ser construído no Brasil colonial. Com tantas mazelas que acometem o país, os parlamentares estão preocupados apenas em acabar com uma legislação ambiental que foi construída durante séculos.
Nossas terras estão sendo descobertas novamente, agora pelos latifundiários com a ajuda dos deputados, mas de outra maneira. A cobertura florestal está sendo arrancada junto com a nossa biodiversidade e o nosso futuro. Só que desta vez não são estrangeiros exploradores que se prestam a esse papel, mas nossos próprios representantes, que também podem estar a serviço de interesses alheios ao da nação.

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*Adaptado de artigo publicado originalmente no site da Regional Latinoamericana de la Unión Internacional de Trabajadores de la Alimentación, Agrícolas, Hoteles, Restaurantes, Tabaco y Afines (Rel-UITA), antes da aprovação do Código - http://www6.rel-uita.org/agricultura/ambiente/deforestacion/descubrimiento_agroforestal_de_brasil-por.htm
*Adaptado de artigo publicado originalmente no site da Regional Latinoamericana de la Unión Internacional de Trabajadores de la Alimentación, Agrícolas, Hoteles, Restaurantes, Tabaco y Afines (Rel-UITA), antes da aprovação do Código - http://www6.rel-uita.org/agricultura/ambiente/deforestacion/descubrimiento_agroforestal_de_brasil-por.htm