Por Joaquim Maia Neto
O colapso do transporte
urbano parece estar chegando ao seu ápice nas grandes cidades brasileiras. Na
última sexta-feira a cidade de São Paulo bateu um recorde histórico. Por volta
das 19 horas a Companhia de Engenharia de Tráfego registrou 295 Km de
congestionamentos. Motoristas demoravam cerca de 30 minutos para percorrer uma
quadra. Taxistas ouvidos pelas equipes de reportagem dos principais veículos de
imprensa manifestaram interesse em deixar a profissão. A cidade que não para,
dessa vez parou.
Situações não tão drásticas,
mas semelhantes, acontecem diariamente nas grandes e médias cidades
brasileiras. O trânsito é um problema cada vez mais sensível às pessoas. A cada
dia mais horas de nossas vidas são consumidas inutilmente no lento e
estressante deslocamento entre casa e trabalho. O que ocorreu em São Paulo no
primeiro dia de junho demonstra a irracionalidade dos sistemas de mobilidade
urbana e das opções feitas pelos cidadãos.
Todo mundo sabe como
resolver o problema, mas nada ou muito pouco é feito no sentido de melhorar a
situação. É impressionante ver como se caminha para um caos anunciado sem que
haja um movimento na sociedade que leve a uma mudança radical e necessária na
forma como as pessoas se deslocam pelo espaço urbano.
Continuar reclamando que o
transporte público é ruim, mantendo o comportamento de entupir as vias públicas
com automóveis particulares, muitas vezes ocupados apenas pelo condutor, é algo
que me parece muito mais do que comodismo. Soa patológico. Não é possível que
alguém que goste de si e que tenha sanidade mental se disponha a passar tamanho
aborrecimento diário, durante meses, anos seguidos, desperdiçando sua vida
preso ao interior de um carro, em meio a uma atmosfera contaminada com altos
teores de monóxido de carbono, para percorrer um determinado trajeto gastando
muito mais tempo do que se o fizesse a pé.
O transporte público não irá
melhorar enquanto a maioria daqueles que têm condições de adquirir automóveis
não utilizá-lo. É preciso deixar o carro em casa, ainda que num primeiro
momento isso gere um colapso no transporte público, ainda que se chegue
atrasado ao trabalho, ainda que cause certo desconforto. Afinal, atrasos e
desconforto já fazem parte da realidade de quem fica preso no trânsito infernal
das metrópoles brasileiras.
O uso do ônibus, do trem e
do metrô pelas pessoas com mais condições de brigar por seus direitos tende a
pressionar governantes a melhorar o sistema de transporte público. Há inúmeras
vantagens em deixar o carro. É ótimo não precisar ficar procurando vagas para
estacionar e não ter que se preocupar se vão furtar o veículo ou algum de seus
acessórios. Ir a um happy hour sem a
preocupação de ter que conduzir veículo com certo teor de álcool no sangue é
muito mais seguro e prazeroso. Tudo isso se tornará possível muito rapidamente
quando a reivindicação principal for pela melhoria do sistema público de transporte
que usamos, ao invés dos alargamentos ou construções de novas vias.
Infelizmente o lobby da
indústria automobilística é um verdadeiro câncer para as cidades. Com
publicidade muito bem feita, recheada de atores e atrizes, jogadores de futebol
e apresentadores de TV, as montadoras vendem como solução algo que constrói o
inferno coletivo. Têm como grandes aliados os governos municipais, que se
omitem ou são incompetentes nas suas obrigações quanto ao planejamento urbano,
os estaduais, que vivem dando incentivos à instalação de fábricas de automóveis,
e o federal, que habitualmente reduz tributos para ajudar a vender mais carros.
Veículo Leve sobre Trilhos na Europa |
Sinceramente eu me irrito
quando vejo as pessoas reclamarem do trânsito. Parece um masoquismo, um prazer
em sofrer com algo que pode ser evitado. Reclamar do transporte público é bom,
desde que a pessoa esteja usando. Mas é difícil tolerar aqueles que ficam
falando mal sem nem saber qual é a linha que passa perto do seu trabalho.
Bicicletas elétricas |
Um evento paralelo à Rio +
20 discutirá nos próximos dias 14 e 15, entre outros temas, o desenvolvimento
de sistemas integrados de transporte urbano. O Rio de Janeiro sediará o fórum “Megacidades
2012 – Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano”, no qual se espera
que os administradores públicos brasileiros acordem para a necessidade de implantar
aqui as experiências bem sucedidas de outros países que estão muito à nossa
frente na solução dos problemas de mobilidade urbana. É uma grande
oportunidade, embora as soluções serão obtidas muito mais rapidamente quando a
sociedade brasileira romper com a cultura da dependência em relação ao
automóvel.
Na verdade, os transportes urbanos públicos de ônibus necessitam que as próximas licitações incluam concorrência entre as empresas.
ResponderExcluirImaginemos se para irmos de Brasília a São Paulo de avião, só tivéssemos a TAM; para ir ao Rio, só tivéssemos a Gol. Os serviços seriam ruins muito provavelmente, e os preços maiores, os horários poucos.
Do mesmo modo, em uma linha como o Grande Circular em Brasília, deveria ser estipulado frequência de 25 minutos, sendo que p. ex. às 8h00 saísse um da Empresa A, às 8h25 um da Emprêsa B, e às 8h50 outro da Empresa A. Incluir uma Empresa C poderia ser benéfico.
A solução do transporte urbano de ônibus passa necessáriamente pela concorrência e maior atenção das secretarias de transporte público.
É preciso se exterminar a ideia da empresa única para cada linha concedida.
Aqui em Brasília, tradicionalmente os idosos nos pontos ao fazerem o sinal, não conseguem fazer o ônibus parar para recolhê-los. Os empresários sabem disso, supõe-se sua participação neste ato horroroso. O estado colabora, pois não há fiscalização, e os casos delatados não causam nenhuma mudança nesta situação, na capital federal do Brasil.