Por Joaquim Maia Neto
Apesar
de não estar entre os temas principais da Rio + 20, a questão do clima não
ficou de fora da agenda da Conferência, pois, nos dias atuais, não há como discutir desenvolvimento
sustentável, economia verde ou governança ambiental, passando à margem das
mudanças climáticas.
Entre
os eventos paralelos que estão acontecendo no Rio de Janeiro, destaca-se o
Rio/Clima (Rio Climate Challenge), que discute soluções para o problema das
mudanças climáticas. É irônico observar que, durante a realização do evento, o
Brasil enfrenta inundações imensas em cidades amazônicas e uma seca desastrosa
no sertão nordestino.
Seca no Nordeste http://lajespintadasemfoco.blogspot.com.br |
Os
prejuízos econômicos causados pelas mudanças climáticas já estão sendo sentidos
com grande intensidade. O Congresso Nacional está analisando a Medida Provisória
565/2012 que autoriza o governo a instituir linhas de crédito voltadas para os
municípios em situação de emergência ou em estado de calamidade pública, com a
finalidade de mitigar os efeitos da seca e das enchentes. Os parlamentares
querem incluir na MP a renegociação das dívidas e o perdão dos juros aos
agricultores que tiveram prejuízos causados pelo clima. Aí temos mais uma
ironia, pois, segundo dados de 2010 do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação, 55,6% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa (GEE) são
oriundas da mudança no uso da terra e florestas, atividades tipicamente ligadas
ao agronegócio. Isso quer dizer que o governo adota uma política pública que
protege dos efeitos prejudiciais das mudanças climáticas justamente aqueles que
são responsáveis pelo seu agravamento. É claro que no universo dos beneficiados
há pequenos agricultores que pouco contribuem para as emissões, mas é
interessante ver que o setor econômico do país que mais afeta o clima é o que
mais sofre as consequências das mudanças, demandando o socorro governamental.
Não
podemos esquecer que nossas atitudes e principalmente nossos hábitos de consumo
são os maiores responsáveis pelo aquecimento global. Nossas viagens ajudam a
aquecer o planeta e consequentemente a alterar negativamente o clima. As
viagens aéreas são responsáveis por 2% de todas as emissões de GEE do mundo. Dados
da Agência Ambiental Federal Alemã demonstram que cada passageiro de avião é
responsável pela emissão de 370 g de CO2 por Km. Se a viagem for
feita de carro, a emissão cai para 150 g/Km. De trem e de ônibus as emissões
são as menores (50 e 30 g/Km por passageiro, respectivamente). Quase tudo o que
compramos gera emissão de carbono, portanto, quanto mais consumimos, mais contribuímos
com o efeito estufa e mais sofreremos as conseqüências. São hipócritas as
estratégias de marketing utilizadas por algumas empresas que afirmam que
produzem determinado tipo de produto com emissão zero. Não há espaço para se
plantar árvores suficientes de maneira a neutralizar todas as emissões geradas
no atual padrão de produção e consumo da humanidade. A única solução é crescer
menos, ou decrescer, o que não significa menos desenvolvimento, e consumir
menos.
O
modelo de desenvolvimento econômico baseado no constante crescimento do PIB é
incompatível com ações voltadas à mitigação das mudanças do clima. Todos os
esforços no sentido de reduzir as emissões acabam sendo anulados pela política
de crescimento constante, lastreada no crescimento do consumo. Por isso, os
participantes da Rio Climate Challenge, propõem a transformação do conceito de
PIB, que hoje usa apenas a soma de bens e serviços produzidos no país para
medir sua riqueza. A proposta em discussão é a de que se incluam variáveis
ligadas à sustentabilidade no conceito de PIB.
Enchente em Coari - AM http://prelaziadecoari.blogspot.com.br |
No
enfrentamento das mudanças climáticas devem ser adotadas estratégias nas mais
diversas áreas. No setor energético é preciso eliminar gradativamente a geração
por meio de combustíveis fósseis. Os subsídios a esse tipo de combustível devem
ser extintos. Os investimentos deveriam ser maiores no setor de
biocombustíveis, mas não é isso o que está acontecendo no Brasil. Em plena
realização da Rio + 20, a Petrobrás anunciou seu novo plano de negócios para o
período de 2012 a 2016, que prevê aumento nos investimentos voltados à produção
de combustíveis fósseis (petróleo e gás) e redução em termos percentuais dos
investimentos em etanol e biodiesel.
O
investimento em transporte coletivo público também é importante no combate às
emissões, mas no Brasil continuamos aquecendo a economia com isenções
tributárias nos automóveis, estimulando o aumento da frota com o consequente aumento
no consumo de combustíveis.
Não
adianta sediar a Rio + 20 e continuar adotando políticas públicas incoerentes
com as necessidades de redução das emissões. O Brasil não resolverá sozinho o
problema climático do planeta, mas tem todas as condições de ser referência
para o mundo no combate às mudanças do clima. No discurso da Presidente da
República na abertura da Rio + 20, percebe-se uma ênfase muito maior na questão
econômica e no crescimento, do que na preocupação com o meio ambiente
equilibrado. Parece que o governo ainda não internalizou nas suas decisões o
cerne da discussão ambiental. A estratégia de cobrar dos países ricos apoio
financeiro às boas iniciativas dos países pobres parece inócua no atual momento
de crise. Talvez seja melhor pressioná-los a resolver seus próprios problemas,
reduzindo suas emissões. A solução para a questão climática passa pela adoção
de metas ousadas de redução de emissões por parte da China, EUA, Índia, Rússia, Japão e União
Europeia. Sem o compromisso desses países, não há perspectiva otimista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário