Por Joaquim Maia Neto
“A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”
- Aristóteles
A
reação do governo brasileiro à participação de Marina Silva na abertura dos
Jogos Olímpicos de Londres é digna não apenas de indignação, mas também de
preocupação por parte de quem defende a democracia.
Marina Silva conduz a bandeira olímpica, junto com Muhammad Ali, Ban Ki-moon e demais homenageados Foto: Jonne Roriz/AE |
A
ex-senadora e ex-ministra do meio ambiente do Brasil foi escolhida pelo Comitê
Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres para carregar a bandeira olímpica durante
a cerimônia inaugural, juntamente com outras sete personalidades reconhecidas
internacionalmente pelo seu engajamento em causas humanitárias. Além de Marina,
tiveram a honra de desfilar conduzindo o estandarte olímpico o secretário-geral
da ONU, Ban Ki-moon, o maestro argentino Daniel Barenboim, o maratonista etíope
Haile Gebrselassie, a ativista liberiana Leymah Gbowee e as defensoras dos
direitos civis britânicas, Doreen Lawrence, Sally Becker e Shami Chakrabati.
Também foi homenageado durante a cerimônia o pugilista estadunidense Muhammad
Ali.
A
participação de Marina Silva na cerimônia olímpica foi uma surpresa, uma vez
que os organizadores pediram sigilo aos convidados. Ao ver uma brasileira
aparecendo mais do que a presidente do Brasil, Dilma não gostou. É claro que Dilma
não manifestou por si mesma o seu descontentamento. O inconformismo presidencial
foi exposto indiretamente por meio de declarações de ministros, deputados e
outros membros da comitiva brasileira, que se solidarizaram ao despeito da
presidente. O ressentimento não foi causado apenas porque outra brasileira
teria ofuscado a mais alta mandatária do país, mas porque a presidente nutre
antipatia pela homenageada desde que foram colegas de ministério durante o
governo Lula.
À
frente do Ministério das Minas e Energia e da Chefia da Casa Civil da
Presidência da República, Dilma fez tudo o que pôde para impedir que Marina
executasse seus projetos no Ministério do Meio Ambiente, até que a situação
chegasse ao limite, levando ao pedido de demissão da ex-senadora. A
participação de Marina nas eleições presidenciais com razoável desempenho
acabou levando o pleito ao segundo turno, o que teria sido motivo para ampliar
a animosidade de Dilma contra Marina.
A
manifestação mais ressentida veio do ministro Aldo Rebelo. Mentor do desmonte
do Código Florestal Brasileiro, o comunista aclamado pelos capitalistas
selvagens por seus grandiosos serviços prestados aos latifundiários brasileiros
e às multinacionais do agronegócio declarou ironicamente que “Marina sempre
teve boa relação com as casas reais da Europa e com a aristocracia européia”,
como se a escolha das personalidades tivesse sido feita pela nobreza britânica
com a finalidade de desafiar a presidente brasileira.
As
personalidades homenageadas, entre elas Marina Silva, tiveram mais destaque do que
todos os chefes de estado, com exceção da Rainha Elizabeth II, devido ao
reconhecimento internacional alcançado pelos seus trabalhos. Ao invés de
fomentar a teoria da conspiração contra o governo do Brasil, a presidente e
seus ministros deveriam, além de reconhecer a importância de Marina Silva na
história do ambientalismo mundial, a exemplo do que foi feito pelo Comitê
Olímpico Internacional, orgulharem-se pelo fato de haver uma brasileira entre o
seletíssimo grupo de figuras mundiais ilustres. Cairia muito melhor à
presidente fazer coro às homenagens, dando destaque ao fato de haver na
abertura dos jogos duas brasileiras de renome, Marina e a própria Dilma, a
primeira mulher eleita presidente do Brasil. Dilma abdicou de uma nobre postura
de estadista ao se ressentir e permitir que seus auxiliares falassem as
bobagens que falaram. Na figura de Marina era o Brasil quem estava
representado, reconhecido pelos esforços em busca de um mundo mais sustentável,
justo e ambientalmente equilibrado. É preciso separar as coisas. Durante a
cerimônia, metade da população mundial aplaudia Marina Silva, junto com os
demais homenageados, enquanto ambientalista renomada e não enquanto opositora
do atual governo brasileiro. Dilma, ao contrário do mundo, torceu o nariz,
inebriada por sua vaidade.
Já
é tempo de os políticos brasileiros entenderem que respeito e autoridade não
são qualidades que estão automaticamente associadas com os cargos que ocupam.
Essas qualidades são frutos de trabalho coerente. Lamentavelmente ainda
padecemos, no Brasil, de certo complexo de inferioridade que faz com que
tenhamos desconfiança toda vez que um brasileiro se destaca no cenário político
internacional. Enquanto o mundo homenageia nossos brilhantes compatriotas,
insistimos em tecer críticas descabidas ao invés de procurarmos nos informar
sobre o trabalho que mereceu tamanho destaque e honrarias. Curioso é notar que
o despeito que ora motiva as críticas do governo petista da presidente Dilma
contra Marina e os organizadores das olimpíadas, é o mesmo que aflige os
setores reacionários da sociedade brasileira e que até hoje vitima o
ex-presidente Lula quando do reconhecimento internacional de seus feitos. A
sucessora de Lula usa do mesmo veneno usado por muitos de seus opositores para
desmerecer o trabalho reconhecido do ex-presidente.
Dilma
Rousseff jamais brilhará como estadista enquanto continuar tentando ofuscar o
brilho de brasileiros que se destacam no cenário internacional, apenas porque
estão na oposição ao seu governo, ou porque divergem de suas políticas
setoriais. Chefes de Estado são como a Lua. Seu brilho é reflexo do Sol,
representado pela sociedade, seus líderes e seus cidadãos de destaque. Sem esse
Sol a Lua permanecerá na sombra, sem se destacar e sem cumprir plenamente seu propósito
enquanto astro que ilumina a noite.
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