Por Joaquim Maia Neto
O Brasil passa por um momento de
ameaça à indústria nacional. Não se trata apenas de uma hipótese remota, ou de
um mito, como muitos advogam. Os números corroboram o enfraquecimento do setor
industrial, consequência de uma conjuntura global na qual outras atividades
econômicas expandem sua participação no mercado. A situação é agravada pela
acirrada competição com países nos quais a indústria é beneficiada por
políticas públicas que lhe conferem vantagens em relação à indústria
brasileira.
Muitos fatores têm levado à
progressiva desindustrialização no nosso país. Quase todos agem reduzindo a
competitividade brasileira no mercado global. Câmbio desfavorável, alta carga
tributária, infraestrutura precária, encargos trabalhistas incompatíveis com as
atuais exigências do mercado, juros elevados e custo dos insumos estão entre as
principais causas das dificuldades que este importante setor da economia
enfrenta atualmente. Nem mesmo a abundância de recursos naturais disponíveis no
Brasil, que podem ser convertidos em matéria prima para a indústria, é capaz de
amenizar os efeitos negativos do extenso rol de fatores prejudiciais.
Dentre todas as dificuldades, duas
são decisivas e devem ser enfrentadas imediatamente: a infraestrutura logística
e o câmbio. A primeira delas faz com que o custo de deslocamento represente um
percentual alto na composição dos preços dos produtos finais. Para saná-la são
necessários altos investimentos, que podem ser realizados diretamente pelo
poder público ou em parceria com o setor privado, na forma de concessão de
parte da cadeia logística à iniciativa privada. Nessa frente de ação devem ser
priorizados os investimentos nos modais ferroviário e aquaviário de
transportes, que são menos onerosos, devido aos ganhos de escala, e ainda
garantem vantagens ambientais.
A questão do câmbio é um problema
cuja solução é complexa, pois não depende exclusivamente de ações do governo
brasileiro. A China, por exemplo, vem mantendo sua moeda artificialmente
subvalorizada, com o evidente propósito de garantir competitividade às suas
exportações de produtos manufaturados. Para compensar as perdas econômicas
causadas pela política cambial chinesa, a União Européia e os Estados Unidos
passaram a adotar medidas protecionistas que prejudicaram ainda mais a economia
brasileira. Neste contexto, não há alternativa ao Brasil que não seja seguir o
mesmo caminho, ou seja, adotar também ações no sentido de proteger a economia
nacional, em especial o setor industrial.
A presidente Dilma Rousseff anunciou
há pouco tempo, em recente reunião com grandes empresários brasileiros, medidas
de proteção à indústria nacional. Consideradas tímidas por alguns analistas, as
medidas têm ajudado a indústria na delicada conjuntura global atual.
Se ações protecionistas mais ousadas
não forem implementadas, continuaremos a conviver com uma situação perversa, na
qual, para manter a balança comercial com números positivos, o país acaba
priorizando a produção de commodities primárias. Isso ocorre em detrimento da
produção de bens manufaturados, que têm maior valor agregado. Gera-se, assim,
um círculo vicioso que agrava a desindustrialização.
A defesa da indústria nacional, com
a adoção de políticas públicas eficazes para o setor, é fundamental para que o
sucesso econômico brasileiro se sustente no futuro. A desindustrialização é um
problema real e deve ser enfrentado agora, sob pena de sermos os próximos
expoentes de uma crise econômica.
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