Por Joaquim Maia Neto
Com o início das campanhas eleitorais nos municípios os eleitores se deparam novamente com a difícil missão de escolher seus representantes no poder legislativo, bem como a pessoa que irá administrar a cidade durante os próximos quatro anos. A cada dois anos os brasileiros são chamados às urnas, com exceção dos eleitores domiciliados no Distrito Federal, onde não há municípios e, portanto, as eleições ocorrem apenas a cada quatro anos.
Os recorrentes escândalos têm levado as pessoas a cultivarem um grande descrédito com relação à política, o que é muito ruim para a democracia. Muita gente, talvez a maioria dos eleitores, acredita que quem se candidata a um cargo público está cheio de “segundas intenções”. O real interesse dos candidatos não seria a vontade de trabalhar em benefício da coletividade, mas sim a oportunidade de se utilizar do cargo eletivo para obter vantagens para si e para seus familiares, visando o enriquecimento rápido e fácil. A crença no fato de que não há políticos honestos leva os eleitores a dois tipos de comportamento que, apesar de distintos, são igualmente nocivos na medida em que perpetuam a permanência de uma maioria de políticos desonestos nos cargos públicos. Um dos comportamentos comuns diante da constatação do predomínio da desonestidade na política é a alienação. As pessoas se “enojam” com tantas falcatruas e passam a desprezar a atividade política. Deixam de se informar e acabam deixando para escolher o candidato apenas por obrigação, sem muito critério. Em muitas das vezes a opção acaba sendo o voto nulo ou branco. Outro comportamento comum do eleitor frente à realidade na qual a ética é exceção na política, é agir da mesma maneira que os políticos, buscando obter vantagens em troca do voto. Essas vantagens podem ser imediatas ou futuras. O eleitor que age assim torna-se cúmplice do político desonesto.
Apesar de ser mais grave, o segundo tipo de comportamento tem os mesmos efeitos práticos que o primeiro. Quem despreza a política devido aos desmandos existentes é tão útil ao sistema quanto aqueles que contribuem ativamente com a corrupção. Políticos corruptos vivem da conivência de eleitores de mesma índole assim como da omissão dos que não concordam com atitudes antiéticas.
Há algumas maneiras de separar o joio do trigo, mesmo que haja pouco trigo. Um bom começo é escolher o candidato pelas suas propostas. Ao invés de votar naquele que promete um favor pessoal, deve-se optar por aquele que tenha um projeto coletivo que se identifique com aquilo que o eleitor defende. Se eu sou defensor do meio ambiente, devo procurar candidatos que tenham a causa ambiental entre suas propostas. Mas apenas as propostas não bastam. É preciso verificar as ações do candidato no passado. Será que a prática anterior do pleiteante ao cargo eletivo é coerente com sua plataforma eleitoral? Será que suas ações estão de acordo com o que eu espero de um político? O cuidado deve ser redobrado no caso de candidatos que buscam a reeleição. Um mandato anterior traz muitos subsídios para uma avaliação do político. Se todos os que já tiveram mandato pisaram na bola, talvez seja o caso de dar chance a um estreante. Nesse caso vale a regra de que todos são inocentes até que se prove o contrário. A escolha de candidatos “ficha-limpa” está ao alcance do eleitor, ainda que a justiça não seja eficaz nisso.
Quem são os aliados de quem eu penso em eleger? Um político não pode fazer boas coisas se estiver comprometido com quem não presta. Não adianta querer ser um bom vereador estando preso a compromissos com um candidato a prefeito corrupto ou sendo financiado por empresas que têm interesses escusos junto à administração. Não se pode agradar a Deus e ao diabo ao mesmo tempo.
Há ainda dois critérios fundamentais para uma boa escolha. O primeiro diz respeito ao custo da campanha. Campanhas caras não são bom sinal. Quem gasta demais invariavelmente tenta recuperar as despesas utilizando-se para isso do cargo público ou fica com o rabo preso com quem o financiou. O outro critério aplica-se a quem já exerceu cargo público e refere-se à evolução patrimonial do candidato. Quem fica rico após entrar para a política é suspeito de antemão. Nenhum salário de cargo eletivo é suficiente para enriquecer seu ocupante. Bons políticos saem do mandato da mesma forma em que entraram.
Muitas vezes a sociedade é iludida pela hipocrisia dos meios de comunicação de massa que criticam o pagamento de salários dignos aos ocupantes de cargo eletivo, mas não atacam os meios escondidos de subsistência dos políticos. Normalmente os candidatos não trocam suas atividades profissionais pelo mandato caso isso implique redução substancial de suas remunerações. Quando o fazem, eles buscam uma compensação “por fora”, o que muitas vezes os amarram a compromissos contrários ao interesse público. Seria justo que um prefeito, governador, presidente ou parlamentar ganhasse, para exercer seu mandato, o mesmo que ganha em sua profissão de origem, tendo as despesas do exercício da atividade bancadas pelo poder público, limitadas a um patamar razoável previamente determinado.
Política não pode ser profissão. Deveria ser entendida como uma das mais nobres maneiras de servir ao semelhante e à comunidade. Ao contrário, muitos enxergam nela a oportunidade de se locupletar com o dinheiro público. Fazem da política um negócio e isso deve ser combatido, sobretudo pelo eleitor.
O eleitor deve ter em mente, quando da escolha de seus candidatos, que eleição não é aposta nem campeonato de futebol. Não devemos ter a preocupação de “ganhar”. Se o candidato que mais atende aos critérios que elegemos para fazer nossa escolha não for favorito, ou ainda não tiver sequer a chance de ganhar, isso não importa. O que importa é que votemos naquele que consideramos o melhor, o mais preparado, mais honesto e mais ético. Voto útil é aquele dado a quem realmente merece. Optar entre dois ruins só para impedir que o “pior” vença é algo que nunca dá certo. Essa prática faz com que elejamos alguém que não é o melhor e desestimula a iniciativa de pessoas idealistas. A exceção existe apenas no caso de segundo turno.
É preciso saber que mesmo que não gostemos de política e ainda que a ignoremos, teremos nossas vidas bastante afetadas pelas decisões tomadas pelos políticos. Assim, o mínimo que temos que fazer é avaliar bem os candidatos que disputam os pleitos nos locais em que moramos. É possível que não haja candidatos sérios à disposição da sociedade. Caso essa seja a constatação do eleitor, é bom lembrar que sempre temos a opção de participar da vida política, colocando nosso compromisso ético a serviço da coletividade. É uma escolha interessante para quando acharmos que não há outra.
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